Os Guaibas – poema

Unigala




ISBN: 978-65-85101-42-4

DOI: 10.29327/5419716

Descrição: Esta primeira publicação do poema Os Guaibas, de Manoel Ambrosio, visa compor o acervo digital com a totalidade da obra do autor januarense, disponibilizado com acesso gratuito na rede internacional de computadores. A presente edição, semidiplomática, insere-se no escopo – e como produto – de investigações partilhadas entre pesquisadores/as de diferentes origens, no momento vinculados/as às seguintes instituições de ensino: Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais (IFNMG), Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO).
Preliminarmente é difícil fazer ilações sobre a imersão do autor no tema do indianismo, mas percebe-se que no conjunto de sua obra Manoel Ambrósio não transige em visibilizar, tanto a presença quanto os vestígios que encontra das civilizações indígenas no escrutínio da história cultural do vale sanfranciscano. Isto posto, vale indagar sobre as possibilidades e estratégias exercidas por Ambrósio em relação á reescrita da história dos povos do Rio, limitado que estava pelas ciências sociais de sua época. Ou, dito de outra maneira, podemos nos perguntar em quais suportes de memória se apega o autor, a fim de apontar a presença e concomitante tragédia que se abateu sobre os povos originários, outrora territorializados na calha do antigo Paranapetinga?!
Lembrando também da impossibilidade de recorrer aos vestígios arqueológicos, ciência ainda inexistente para o autor, em termos práticos; e confrontado que estava por uma narrativa histórica eurocentrada que desconsiderava (e segue desconsiderando) a pujança das civilizações indígenas na América invadida, nosso poeta-pesquisador parece recorrer – para além da tradição oral –, às pistas deixadas na paisagem (sobretudo em seus espaços interditos), nos seres do bioma sanfranciscano, nas diferentes categorias de não humanos e, finalmente, ao próprio Velho Chico – entidade viva e perene – que no poema em tela insiste em perguntar aos “brancos” de São Romão: onde [estão] os meus selvagens, meu nobre povo gentil?
Indagação que pôde ser respondida no curso do texto mediante a denúncia dos crimes cometidos pelas bandeiras e seus respectivos bandeirantes, os “heroicos desbravadores” que transformaram a idílica Ilha dos Guaibas em um brazeiro, uma fornalha [onde foram trucidados] velhos, mulheres, crianças – Efemeras folhas das franças – [que] cahiram nessas matanças[.] É assim que nos vemos diante de uma narrativa poética ambrosiana que, vale ressaltar, concorda com a hodierna versão histórica da colonização das Minas Geraes defendida pelo imortal Ailton Borum Krenak, literato indígena que, sobre os ombros de sua própria tradição mnemônica, assevera jamais ter havido por parte dos invasores a intenção de fazer parte do mosaico de povos e culturas que prosperaram no território sanfranciscano desde tempos imemoriais, mas que aqui vieram com o intuito único de rapinar, subjugar, escravizar e negar qualquer possibilidade de convivência simétrica  dentre humanidades distintas.  
É na aparente tentativa de refletir sobre a invasão colonial no seu torrão natal que Ambrósio urde seu poema, propondo, finalmente, que a cidade dos brancos (a vila do desengano), funda-se a partir de execrando triumpho. Ao fim e ao cabo, nosso católico-autor decreta a necessidade de redenção de um povo engendrado a partir de um teatro tão desumano. Para Ambrósio, São Romão da Vila Risonha não pode prosperar enquanto não expiar a desgraça, o tormento e o remorso das ações tenebrosas que produziram uma miríade de almas penadas sertão adentro, assombrações estas que são o fruto e o resultado do genocídio praticado por Januário Cardoso e seu séquito de portugueses e mazombos. 
Mergulhando mais nos meandros do poema percebe-se ainda que, se é verdade que a escrita da história dos/pelos “brancos” e “notáveis” silencia sobre o holocausto indígena, de outra parte o Rio, os urutáos, os bacuráos, os zabelês e os cangirês, em suma, a grande alma da natureza sanfranciscana responde clamando pelo genocídio do Povo Guaiba, gritando e piando de forma ininterrupta pelo desparecimento de seu povo originário.
Vamos à tragédia.

Organizadores: Ramiro Esdras Carneiro Batista e Elza Cristiny Carneiro Batista



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